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Quarentena: a corrida morreu. Viva a Corrida!

Na última edição das 24H Portugal, encontrei o Mário Meneses e trocamos aquela pergunta sacramental entre corredores: “Então? Tens treinado?”

E o Mário responde-me: “Tenho, mas a verdade é que não tenho vontade nenhuma de correr!”

Curioso… já na altura eu sentia o mesmo. Atravessava uma crise existencial na minha corrida. A falta de tempo faz-nos correr menos e ao correr menos vamos perdendo a vontade e então corremos cada vez menos.

Sem saber, na altura, entrava numa longa fase em que a única motivação que encontrava para correr eram as provas. Foi a fase em que comecei a correr distâncias mais curtas, algo a que já dediquei um artigo anterior.

O início deste ano foi tortuoso. Apesar de sentir-me muito bem e divertido em prova, na hora de treinar… nah. E para ajudar à festa, tive que faltar a uma prova, devido a uma gripe.

Depois dos Abutres não voltei a correr. Preparava-me para enfrentar os 23Km do Paleozóico quando chegou o COVID-19 e o confinamento.

O confinamento foi o golpe de misericórdia na minha escassa vontade de treinar. Motivado a ficar em casa, por todos os motivos e mais alguns, quando a 14 de Março me enclausurei, iniciei um longo período de várias semanas sem correr. Em contrapartida, fiz exercício na elíptica praticamente todos os dias. Mas correr… é correr.

Por isso, numas escassas manhãs, calcei as sapatilhas e fui correr para as escadas de acesso a minha casa. 25 degraus. É um bom treino, sim senhor… Mas correr… é correr.

Então, aos poucos, enquanto ia rebentando com a elíptica, ia renascendo em mim a vontade de correr. Nasceu então o dia em que calcei as sapatilhas e fui para a rua, sem sair dos 100 metros em frente a minha casa. 100 metros para um lado, 100 metros para o outro.

Tive que voltar a aprender a correr. Uma, duas, três… só para aí à quarta ou quinta vez é que voltei a ter prazer no que estava a fazer. Renasci para a corrida.

O tempo continua a ser escasso, mas a vontade é forte e tenho treinado quase todos os dias. Meia-hora, mais coisa, menos coisa. Mais recentemente, aproveito para passear a cadela e pô-la a correr comigo. Uma motivação extra.

E agora?

Apesar do desconfinamento, continuo a não arriscar sair aqui da rua.

Parece que, tão cedo, não haverá provas. Digam o que disserem, não é a mesma coisa. “Ah… os trilhos estão lá… a estrada está lá…”. Sim, está tudo lá, mas falta algo. Até para aqueles que, como eu, lutam para ficar à frente do último.

Mas a vontade e a motivação continuam a crescer e só espero pelo momento certo…

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António Pinheiro
António Pinheiro
Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

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