5, 10, 15, meia-maratona, maratona, ultra… 3 dígitos. Um percurso, uma progressão comum a muitos corredores.
Quando, em Setembro de 2015, o Vitor Dias me falou na primeira edição dos 100k Portugal, achei que era coisa para se fazer, tanto mais que, num belo Domingo de Novembro, fui o primeiro a inscrever-me na prova.
E, poucos meses depois, lá estava eu na linha de partida, para desistir umas horas mais tarde, com 67km percorridos, derrotado pelo frio.
No ano seguinte, 62km… dessa vez foram as bolhas nos pés.
De regresso a casa, após a segunda desistência, disse à Teresa: “Para o ano faço isto em estafeta, arranjo quatro amigos, 25km a cada um… é na boa!”
E, o primeiro a convencer, foi o Sr. Silva, amigo e colega de trabalho, que começou a correr, precisamente, inspirado pelos relatos das minhas corridas, à hora de almoço. O Sr. Silva corre, religiosamente, todos os Domingos, 20km. Em 2017, durante o ano todo, correu mais de 1.200km, logo, pareceu-me uma boa contratação.
O segundo, foi o Marcos Soares. Companheiro de aventuras filarmónicas, também ele ingressou no mundo da corrida e os seus resultados são cada vez mais interessantes. Assim, como era preciso alguém para correr a sério na equipa, convidei-o.
Faltava-me uma alminha para ter a equipa completa. Bem que coloquei anúncio no Facebook, mas ninguém se ofereceu. Percorri mentalmente a minha lista de amigos corredores e travei na letra D: Diamantino Monteiro, músico, maestro e… corredor!
O passo seguinte foi pedir autorização ao Dr. Merino para correr com o nome e as cores da equipa. Era algo arriscado, porque não íamos para ganhar, nem tão pouco, mais ou menos. O speaker Hugo Água, numa das nossas primeiras passagens pela meta, ainda disse: “Eles que todas as semanas lutam pelos primeiros lugares nas provas de trail…” “Eles”… mas não nós…
O Silva foi o primeiro a correr. Eleito por unanimidade e aclamação, já que foi o único que se apresentou no local da prova já de t-shirt e calções, enquanto os outros três marmanjos estavam encolhidos de frio. Ainda por cima, obrigou-me a dar uma volta de aquecimento ao circuito.
Depois corri eu, o Diamantino, o Marcos… e assim foi durante todo o dia, até à tão desejada 62ª volta.
Estas provas em circuito (100K e 24H Portugal), organizadas pelo Vitor Dias e pelo João Paulo Meixedo, são sempre muito mais que provas de corrida: são festas onde, pelo meio, o pessoal vai correndo. Há comes e bebes, animação, um speaker incansável, um staff atencioso, divertido e afável e gente que se apoia mutuamente.
Apesar das várias equipas, parece que somos todos da mesma equipa e, no final, todos ganham. Há sempre um “força”, “vamos”, “ânimo”, “está quase…”
Há sempre um Rui Pinho que nos grita “Anda, Pinheiro!”; há sempre um Gonçalo com quem partilhar momentos; há sempre gente com “cambrias”.
Desta vez, houve também um Silva que não cabia em si de contente e orgulhoso pela sua primeira medalha, um Marcos “super-sónico” a passar veloz em cada volta e um Diamantino esforçado mas sempre com aquele ar de galã tranquilo.
No fim, houve um Pinheiro realizado por, à terceira tentativa não ter saído de Lousada como desistente e por ter proporcionado momentos inesquecíveis a três amigos.
100 a dividir por 4 não custa, mas não é tão fácil como parece…
Quanto aos três dígitos a solo, ficam prometidos para Setembro.
P.S. – Só Deus sabe o que me custou ter passado o dia em Lousada, quando a minha família precisava tanto de mim em casa. Mais do que as dores nas pernas, a dor na alma… Por isso, a minha reacção no fim da última volta, ter ficado ali sem conseguir dizer nada… Teresa, tenho muitas medalhas e algumas muito especiais, mas esta quero que guardes.
António Pinheiro
Foto: Elisabete Ribeiro