Nunca sei o que me traz cá. Não sei se é algo ou se é tudo. As provas dos Azores Trail Run fazem-me por vezes pensar se não estarei a sonhar.
O Triangle Adventure é, com toda a certeza, uma das melhores provas nacionais e talvez do mundo. Esta aventura (sim, é mesmo uma aventura) não liga apenas 3 ilhas em 3 dias. Liga pessoas vindas de vários cantos do mundo, pessoas que partilham o mesmo que tu: a paixão pela corrida no seio da natureza.
Começar a primeira etapa pelo vinhedo do Pico (Património Mundial) e inclinar a cabeça bem lá para cima onde tentarás chegar, ao ponto mais alto de Portugal, é algo digno de um sonho. Misturam-se sentimentos e o coração bate mais forte, o sonho começa e, quando chegas aos 2351 metros de altitude, nem sabes o que sentes e as lágrimas podem surgir. Fazes a descida a pensar no destino do dia seguinte ali ao lado, a uma hora de distância de barco, onde toda a comitiva se concentrará amanhã bem cedo. Antes disso há o jantar convívio da noite entre iguarias tradicionais, histórias do dia que passou, emoções, dificuldades e previsões para o dia seguinte.
A ilha de S. Jorge engalanou-se à espera desses “malucos” que, no dia anterior, subiram ao Pico a correr. Hoje há mais uma “coça” e das boas! O Trilho das Fajãs não é para gente mole mas esta gente é forte! As subidas e as descidas são incrivelmente duras quer sejam em terra ou em degraus e o calor, invulgar para esta altura o ano, não vai facilitar a vida aos atletas que antes de alinharem na partida ainda saboreiam os bolos típicos locais e o famigerado queijo da ilha.
A conta gotas lá foram chegando os atletas à Fajã dos Cubres. Esperava-os uma bela sopa de peixe, atum, doces regionais e um mar com água a 24 graus a que muitos não resistiram. Mais uma viagem pelas veredas de S. Jorge com paisagens de cortar a respiração onde até os golfinhos vieram animar a festa.
Às 6 da manhã do 3º dia já tudo andava em alvoroço para apanhar o Ferry que nos faria ligar S. Jorge ao Faial onde iria decorrer a derradeira etapa de 42 km. A temperatura amena e o mar calmo ajudaram na travessia que duraria cerca de 2 horas. Mais uma viagem de autocarro até ao vulcão dos Capelinhos onde um pequeno-almoço reforçado esperava os atletas antes de partirem rumo à cidade da Horta. Que paisagem lunar e imponente naquele que é o mais novo território europeu (fez 60 anos há uns dias atrás).
Subir, subir e mais subir até à Caldeira passando pelas levadas, terreno vermelho e aquele cheiro a musgo e a terra húmida que só quem lá esteve pode descrever. Valeram as muitas sombras para apaziguar o calor que se fez sentir.
Descer, descer e mais descer até ao Centro da Horta onde a população esperava por toda aquela gente com pressa que veio de tão longe para conhecer as entranhas da sua ilha.
A noite seria de festa no jantar de entrega de prémios onde a emoção da despedida fez crer que, em breve, muitos lá estarão para voltar a sentir todas estas emoções.
Foto: Paulo Gabriel