A 50 dias do evento Banco Bic – 24 h Portugal, em Vale de Cambra, aqui fica uma curta e genérica análise acerca do que constitui a base de uma prova deste género.
A corrida de 24 horas é um tipo de ultramaratona em que em vez de ser definida uma distância é estabelecido um tempo total de prova. O objectivo do ultramaratonista num evento deste tipo é testar qual a distância máxima que consegue percorrer durante essas 24 horas.
O percurso é traçado em circuito fechado, na maioria dos casos em pistas de 400m. Actualmente começa a surgir um número significativo de provas em que o traçado varia entre um a dois quilómetros. O campeonato do mundo, recentemente disputado, no passado mês de Abril, em Turim, Itália e que teve 302 participantes, foi corrido num circuito de 2 quilómetros. Sagrou-se campeão o alemão Florian Reus, com 264 km percorridos. Nas senhoras, o título foi para os EUA, com Katalyn Nagy a completar um total de 244 km.
Neste tipo de prova, o estabelecimento de um objectivo/distância passa não apenas pela definição de um ritmo mas antes pela delineação de uma estratégia.
A corrida de 24 horas é o crème de la crème das provas de resistência, onde o adversário não é o outro concorrente, mas antes o relógio e a estratégia: a estratégia de ritmo, de descanso, de alimentação e de hidratação. Tudo sob permanente supervisão da mente. Como defende o recordista mundial, com a marca de 303km, Yiannis Kouros: “ninguém completa com sucesso uma corrida de 24 horas através do seu corpo mas antes através da mente”.
Não obstante a existência de diversos parâmetros, a definição de ritmo é provavelmente o ponto mais crítico do planeamento. Há atletas que decidem sair com um ritmo forte e aguentar o maior tempo possível, só o reduzindo à medida que o corpo vai perdendo resistência. Outros tentam a abordagem oposta, tentando uma ponta final mais forte.
Depois, há os atletas mais experientes, e que normalmente obtêm maior sucesso neste tipo de provas, que tentam manter um ritmo constante ao longo das 24 horas, com regulares e relativamente longos períodos de descanso. Há ainda quem durma e quem não o faça, optando apenas por descansar.
É também habitual intercalar-se caminhada com corrida; por exemplo, ao fim de cada 30 minutos de corrida fazer 5 minutos a caminhar; ou, nos traçados com desnível, correr em plano e nas descidas e caminhar nas subidas.
Outro parâmetro objecto de análise é a questão do equipamento e sobretudo do calçado. Há quem faça a prova sempre com o mesmo calçado e quem o troque regularmente, inclusive para um tipo diferente, alegando assim que o esqueleto vai sendo obrigado a reagir, não se ajustando a uma posição que pode mecanicamente acabar por ser mais desgastante.
O período nocturno pode ser o mais cansativo, por ser aquele em que o nosso corpo diariamente “desliga”. Convêm não descurar o café, e roupas mais quentes, a vestir mal a temperatura ambiente desça abruptamente, mesmo que não tenhamos sensação de frio.
Um detalhe importante é ter uma equipa de apoio, que na prática pode apenas ser uma pessoa amiga, que vai tratando do nosso equipamento e alimentação que tenha sempre preparada uma palavra de conforto nos períodos mais complicados.
Quanto ao resto, meus amigos, é a preparação do corpo e da mente. Todos sabemos que correr longas distâncias consiste muitas vezes em colocar a emoção à frente da razão; e quanto mais longa e demorada é a jornada mais nos vamos apercebendo de que aquilo que procuramos, acima de qualquer realização física, é sermos transportados para um outro estado de espírito, um local distante onde o nosso corpo desiste de nos controlar e se rende ao poder da mente.
nosso que poste interessante.