Há 3 anos atrás foi-lhe diagnosticada diabetes mas isso não fez com que deixasse de praticar exercício físico, aliás é com a corrida que controla a doença. Faz maratonas e mede o nível de glicémia durante as provas.
Fomos conhecer o Sérgio, técnico de obra/orçamentista, 34 anos, corredor de pelotão e um exemplo para todos os que encontram falsas razões para não correrem.
Quando te foi diagnosticado a diabetes e quando te tornaste insulinodependente?
A diabetes foi-me diagnosticada em 24 Agosto de 2011, tornando-me na mesma data insulinodependente.
Foi um pesadelo perceber o motivo pelo qual tinha perdido 11 quilos em apenas 1 mês. Mas ao mesmo tempo um alívio por ser uma doença que me permite ter uma vida ‘normal’, ainda que controlada.
Já corrias nessa altura?
Não, sempre gostei muito de desporto mas praticava essencialmente futebol e ciclismo.
Na altura em que me foi diagnosticado diabetes, por motivos profissionais, não tinha tempo para a prática de desporto. Mas quando se tem vontade o tempo arranja-se e foi o que aconteceu a partir do momento em que percebi que o exercício físico passaria a ser essencial para me ajudar a manter os níveis desejados de glicémia.
Como controlas o nível glicémico durante as provas, principalmente em maratonas ou ultra maratonas?
Quanto ao controlo dos níveis de glicémia nas provas, utilizo o medidor Accu-Chek Mobile, que tem como vantagem em relação a todos os outros medidores a sua portabilidade e forma prática de utilização, não necessitando de tiras, nem lancetas para manusear ou deitar fora, permitindo medir o valor da glicemia apenas com um instrumento (ver imagem).
Quanto ao controlo em grandes provas de grande distância, até ao momento, apenas fiz uma maratona de estrada de 42,195km tendo medido 6 vezes o nível glicémico.
A próxima maratona será em montanha, no MIUT e conto que, com a experiência que já adquiri em provas anteriores, conseguir controlar os níveis glicémicos e terminar esta distância com os níveis estáveis.
Irei agora a 12/04 fazer a minha primeira maratona em montanha, no MIUT e a minha primeira ultra na Ultra Trail Geira Romana a 18/05.
A corrida ajuda-te a teres uma melhor qualidade de vida?
Sim, a corrida e de uma forma geral o desporto, ajudam-me a baixar os níveis de glicémia, baixando também a necessidade de administração das doses necessárias de insulina ao longo do meu dia.
Que evolução tiveste desde que começaste a correr?
Comecei a correr em 2012, na corrida do dia do Pai, fazendo os 10km em 53min. Comparativamente, no ano passado, na prova São Silvestre de Santo Tirso atingi nos mesmos 10km o tempo de 42:45min.
Após já ter feito várias provas de trail, sendo a maior distância percorrida de 33km no Trail de Santa Luzia e depois de 3 meias maratonas, consegui na minha 1.ª maratona de estrada o tempo de 3:40h, acredito estarem reunidas as condições para arriscar em provas mais longas, começando pelo MIUT – 42km e Ultra Trail Geira Romana – 52,5km já marcadas.
Até ao fim do ano os meus objectivos passam por fazer a prova Trail Serra Arga – 45km; Ultra Trail Amigos da Montanha – 61km e outras aventuras das quais possa disfrutar ao máximo.
O que te dizem os médicos quando lhes dizes que fazes tamanhas distâncias?
Devo referir que sou actualmente acompanhado no Centro Hospitalar Gaia/Espinho, por uma equipa fantástica à qual desde já agradeço, nomeadamente ao Dr.º Gustavo Rocha (Endocrinologista), à Dr.ª Carla Guerra (Nutricionista) e a toda equipa de enfermagem, pela ajuda que me dão na compreensão e controlo da minha diabetes, permitindo-me neste momento estar com uma Hemoglobina Glicada de 6.9, o que é muito bom.
Quando à reacção da minha equipa médica, eles apoiam-me e ajudam-me a calcular os reajustes necessários das doses de insulina e da alimentação que devo seguir em provas.
Um exemplo do apoio da minha equipa médica foi a minha primeira peregrinação a Fátima a pé (5 dias) em 2013. Contei com a experiência da minha nutricionista (pois ela já tinha feito a mesma peregrinação) e por indicação dela e do meu médico alterei as doses de insulina a tomar, tendo baixado consideravelmente as doses de insulina diária.
Aconselho a quem tenha diabetes, ou uma outra doença em que sejam necessariamente seguidos por uma equipa médica, como é o meu caso, que sejam sinceros com os seus médicos, pois só assim podem ter a certeza de estar a praticar actividades (desportivas ou não) que se adeqúem à sua doença não pondo de forma nenhuma a sua vida em risco ou o agravar da sua doença.
Fala-nos do projecto Blue O. Como funciona, quantos atletas a eles estão associados em Portugal e no mundo?
Sobre o projecto Blue O, que com muito orgulho represento nas provas, o seu mentor é Carlos Farinha de Castelo Branco, diabético há 19 anos, amante e praticante de BTT. Actualmente a curiosidade desportiva do Carlos também já abrange Trail tendo já feito as suas primeiras provas nesta vertente. O projecto visa a partilha e troca de experiências da nossa vivência com a diabetes associada à prática do desporto, como um complemento essencial ao nosso tratamento, seja ele com insulina ou não.
O projecto conta actualmente com cerca de 50 atletas, dispersos por diversos desportos nomeadamente o trail, BTT, escalada, caminhadas, corfebol, natação, judo e triatlo estando representado a nível nacional desde Bragança a Albufeira e além-fronteiras já conta com atletas na Costa Rica, Brasil, USA e Espanha.
O que aconselhas a quem padece de diabetes?
Antes de mais é essencial saberem reconhecer os sintomas:
- Vontade de urinar com muita frequência;
- Fome frequente;
- Sede constante;
- Perda de peso (em alguns casos ela ocorre mesmo com a alimentação excessiva, no meu caso perdi 11kg num mês);
- Fraqueza;
- Fadiga;
- Nervosismo;
- Mudanças de humor;
- Náusea e vómito.
Se se identificarem com alguns destes sintomas devem, sem alarmismo, fazer a medição capilar da glicémia (vulgar pica no dedo para recolha de uma gota de sangue). Se verificarem que a vossa medição está acima do normal (entenda-se que o nível normal é +-120), devem procurar de imediato junto do vosso centro hospitalar realizar análises específicas ao sangue para despistar quaisquer dúvidas no diagnóstico da diabetes.
Caso vos seja realmente diagnosticado diabetes, apesar do choque inicial que irão sentir, procurem informações aos mais diversos níveis pois tudo mudará na vossa vida mas não será necessariamente para pior.
Aconselho a todos que procurem não ver o lado mau da doença e pensar que existem outras doenças do qual não existe tratamentos para o seu controlo. Tentar tirar qualquer sentimento de culpa dos pais que irá surgir aquando da sua detecção da doença e tentar explicar que a diabetes apareceu sem nós queremos, logo terá que ser apreendida uma nova maneira de viver, concentrando-se nas coisas boas da vida, os amigos e familiares principalmente. Aprender viver com a doença, alterando hábitos alimentares e acima de tudo fazer desporto com alguma regularidade, o qual ajuda a baixar os níveis de glicémia, não necessitando da administração de tanta insulina. Encontrar associações de diabéticos para troca de experiências e vivências, aprendendo e ensinando com outras pessoas e perceber a doença.
Bom dia, muitos parabens . Também sou dia ética tipo 1 e gostava de saber mais na noticia referiram um grupo de 50 pessoas existe alguma equipa ou grupo de diabéticos a correr e em que zona do pais .
Obrigada
Cumprimentos