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Porque nos viciamos na corrida?

Começo estas pequenas análises por aquilo a que chamamos o vício de correr.

O que nos leva em dias de muito calor, frio ou chuva a sairmos de casa e a ir correr? Não é apenas a vontade de atingir metas de tempos ou provas, parece que há explicação química para a questão.

Os adeptos das actividades físicas conhecem bem a sensação de, a certa altura do exercício, ter o cansaço e a dor muscular substituídos por uma sensação de bem estar, uma mistura de euforia e prazer.

Conhecida por alguns como “runner’s high”, esta experiência, que pode proporcionar uma impressão de paz e tranquilidade, muito provavelmente tem ligação com a libertação de endorfina pelo sistema nervoso central.

Benefícios para o organismo

Descoberta nos anos 70, quando foram identificados cerca de 20 tipos diferentes de endorfinas, a substância ainda não foi suficientemente estudada.

“A endorfina é um assunto controverso por ainda causar muitas discussões e apresentar poucas provas científicas”, afirmam vários médicos.

Acredita-se, porém, que a endorfina traga uma série de benefícios ao organismo, ajudando a melhorar a memória e o estado de espírito, além de aliviar as dores e aumentar a resistência dos praticantes dos mais variados desportos. Parece ser tão benéfica à saúde que muitos médicos costumam receitar ginástica para quem sofre de depressão ou de insónias.

Efeito de curta duração

Para usufruir dos efeitos da endorfina, não é preciso matar-se a treinar. “Pedalar meia hora por dia já é suficiente para o indivíduo se sentir melhor”, explica Marco Aurélio Monteiro Peluso, médico-assistente do Grupo Interdisciplinar de Álcool e Drogas, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo (GREA).

“Agora, o que não se tem a certeza é se esta sensação de bem-estar está ligada à parte fisiológica – dos efeitos da endorfina -, à psicológica, à eficácia do exercício ou à interacção social”, diz. “O mais provável é que o bom humor que se sente logo após os exercícios físicos seja mesmo causado pela liberação da endorfina.”

Mas não dá para estabelecer o momento exacto em que acontece essa liberação muito menos a quantidade libertada, já que as substâncias que, como a endorfina, agem na corrente sanguínea, o fazem de maneira diferente em cada indivíduo.

Flutuações de glicemia, dor periférica e necessidade do ajuste do tonus muscular são algumas das consequências do stress físico que colaboram directamente para a libertação da endorfina. Segundo o mesmo médico, a duração dos efeitos é curta, de apenas alguns minutos.

Endorfina é uma droga?

Voltando ao começo deste texto, temos algumas descrições – “…bem-estar… mistura de euforia, prazer e satisfação… impressão de paz e tranquilidade…” – que em muito se assemelham a um relato sobre o uso de drogas. Não é coincidência. O Dr. Peluso define a endorfina como “uma droga opióide, ou seja, uma substância, sintética ou não, que age como o ópio, mas não deriva dele”.

“A semelhança com estas drogas, ela funciona como uma substância inibitória, que promove as sensações de calma, tranquilidade e relaxamento”, explica Dr. Peluso. Etimologicamente, a palavra é uma junção de “endo” e “morfina”. Vem daí a diferença fundamental entre a endorfina e as drogas cultivadas ou fabricadas pelo homem: ela é endógena, produzida pelo nosso próprio organismo, mais especificamente, dentro do sistema nervoso central de pessoas de todas as idades e ambos os sexos.

Endorfinomanos

Actividades físicas muito leves ou muito intensas não ajudam a melhorar o humor. “O ideal é a prática de uma actividade moderada e regular”, garante o Dr.. Peluso.

Isso significa que os chamados endorfinados, pessoas conhecidas por tornarem-se viciadas em actividades físicas com o intuito de sentir prazer, agem de forma errada e nada saudável.

Como ocorre na interrupção do uso de drogas por parte de um viciado, se um endorfinado parar de se exercitar pode sofrer a chamada crise de abstinência, em que a ausência da actividade física leva ao nervosismo e afecta o sono, entre outros sintomas.

E aí, cabe a pergunta: a endorfina causa dependência? Para uns, sim, já que a sua ausência pode causar crises entre os que estão acostumados; para outros, não, por ser produzida pelo próprio corpo e não causar lesões hepáticas ou cerebrais.

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Vitor Dias
Vitor Dias
Autor e administrador deste site. Corredor desde 2007, completou 67 maratonas em 18 países. Cronista em Jornal Público e autor da rubrica Correr Por Prazer em Porto Canal. Site Oficial: www.vitordias.pt

7 COMENTÁRIOS

  1. tudo o que é relatado neste artigo se aplica exactamente aquilo que sinto quando faço o meu treino de running ou natação. sinto-me muito bem quando estou activo mas quando surge algo que me impede de treinar fico impossivel de aturar.

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