Explica-me como se eu fosse muito burro (às tantas sou…): o que te leva a cortar caminho numa corrida?
O que te leva a pegar numa barreira delimitadora de percurso, arrumá-la para o lado e atalhar cerca de 2km à prova? Já tinhas feito o mesmo nos retornos anteriores?
E, depois de fazeres isso, porque cortas a meta todo feliz e orgulhoso?
Gostava mesmo de perceber.
10km é muito? Às tantas é. Havia uma caminhada de 5km, inscrevias-te e fazias essa distância a correr. Ah… mas não era a mesma coisa, pois não? Chegar hoje ao trabalho e dizer “corri 5km ontem”, não teria o mesmo impacto de dizer “corri 10km e cortei a meta abraçado à Aurora Cunha!”
O problema é que não correste 10km. Viste que havia uma “brecha de segurança”, sorriste para a simpática escuteira, ela sorriu para ti e disseste às tuas amigas “vamos por aqui.” E foram. Não satisfeito, ainda tentaste barrar a minha passagem quando vos apanhei a escassos metros da meta “Não o deixem passar! Não o deixem passar!”, gritaste todo fanfarrão.
Que herói! És assim em todos os momentos da tua vida? Passas o tempo a cortar caminho, a desviar barreiras, a fazer batota?
A corrida é um Desporto (leiam bem: Desporto) cada vez mais popular o que leva a que haja também mais batoteiros.
Aqui há anos, uma conhecida atleta de trail deu nas vistas na Maratona do Porto por ter cortado caminho e ainda se ter orgulhado disso. De vez em quando vejo-a por aí em pódios e não consigo deixar de pensar se terá feito o percurso todo. É a história do Pedro e do Lobo, com sapatilhas.
Aliás, na Maratona do Porto é “mato”. É verdade que a Organização faz uma limpeza e desclassifica os prevaricadores. Mas, nesse momento, já eles exibiram a medalha e a camisola de “Finisher” na Internet. No dia seguinte, são os maiores da terra deles.
Conheço um que na Maratona de 2019 ia ao meu lado. Ficou para trás, não me ultrapassou. Ao fim do dia tinha a foto de braços abertos a cortar a meta, com um tempo de 3h e pouco. Bravo! Pena que não tivesse nenhum controlo de chip depois dos 15km, só voltando a ter aos 30 e tal. Que rei!
Num desporto que vive cada vez mais da imagem que se cria, muita gente parece lidar bem com este fenómeno. Valem mais as fotos, as entrevistas do speaker, os likes e comentários nas redes sociais. A honra e a dignidade ficam na gaveta.
“Mas quem és tu para estar a criticar?”
Sou um gajo que se mata para chegar ao fim. Um gajo que prefere desistir, a fazer batota. Posso chegar de gatas, rebentado, em último, a morrer… mas fiz o que era suposto.
Ontem, na Petrus Run em Pedroso, numa zona específica do percurso, foram vários os corredores que aproveitaram a morfologia da prova, a distracção e bonomia da Organização, para se furtarem a duas subidas e atalharem um bom par de quilómetros.
E no fim?
No fim, levei na cabeça de um membro da Organização, por ter a tshirt a tapar o dorsal.
Este site utiliza cookies para permitir uma melhor experiência por parte do utilizador. Ao navegar no site estará a consentir a sua utilização. Concorda?SIMNÃOPolítica de Cookies