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Deixei de meter gasóleo para correr

Domingo de manhã. Chovia como se o Céu tentasse varrer com água o COVID da face da terra. Saí para correr, com impermeável (detesto!) e mochila, porque saí sem saber para onde ia. Sabia que, pelo menos, ia até ao fundo da rua.

Esquerda ou direita?

Direita, que da última vez tinha ido pela esquerda. A chuva ia diminuindo de intensidade, à medida que subia para o cruzeiro de Santa Marinha.

Esquerda? Direita? Em frente, porque é a descer. Cuidado para não escorregares. Isto não é trail mas parece, é o que dá alcatroarem estradas e esquecerem-se da drenagem. Os pés arrefecem. Frio? Não é normal eu ter frio.

Esquerda? Direita? Esquerda, porque é sempre a subir até ao Monte da Virgem. Vou fazer isto tudo sem parar de correr. O relógio dava alertas de frequência cardíaca elevada. É melhor abrandar.

“Lá em cima, há planícies sem fim…” Não. Há um nevoeiro cerrado. Continuo com frio e a chuva voltou. Duas voltas à capelinha e uma selfie para o Insta, porque eu sou muito social.

Seguir em frente ou regressar a casa? Regressar a casa e acender a lareira.

Começo a descer, o relógio vibra e diz que está a gravar o treino. Mas eu ainda não acabei! Toca a iniciar uma nova actividade (é isto que se chama um treino bi-diário?)

A descer todos os santos ajudam, excepto as solas das sapatilhas. O corpo, finalmente, aquece, a chuva pára.

Esquerda para mais uma volta? Direita para casa? Mais uma voltinha, mais uma viagem, porque o dia está a pôr-se bom.

A Eduarda passa, buzina e levanta o braço. Eu não me tinha apercebido que, por este lado, ainda subia bastante. Que se lixe! Os gémeos doem. Quero tirar o impermeável, mas estou preguiçoso. ‘se lixe!

Olha… daqui vê-se a minha casa! E meia hora depois lá chegava.

Há dias, quando ia sair para correr, para um dos meus locais habituais, vi que estava com o depósito (do carro!) na reserva. Então, saí para a rua e fui assim, sem destino. Acreditem, é giro, libertador e a sensação de correr por prazer é genuína.

Mas porque é que nunca fizeste isso antes?

Porque sempre morei em zonas com demasiado desnível, com demasiados cães na rua e onde eu achava que não era seguro, ou prático, correr. Então ia para os locais de corrida habituais.

Agora, deu-me para isto. Saio sem saber para onde vou. O carro fica na garagem, poupo dinheiro e preservo o ambiente. Acima de tudo, divirto-me à brava. E não é para isso que corremos?

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António Pinheiro
António Pinheiro
Profissional de marketing, músico e corredor por prazer. Corre na estrada, no monte e de um lado para o outro na vida, atrás e à frente dos filhos.

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