José Moutinho, o “Pai” do trail português, dizia uma vez que “o trail é corrida com constantes mudanças de piso, direcção e desnível”. E é verdade. Por isso, um bom compromisso na sapatilha entre conforto, velocidade, aderência e preço requer paciência e alguma disponibilidade financeira.
Mas, do mesmo modo que os pneus são o componente mais importante de um carro, porque são o que o agarra à estrada, a sapatilha será a peça mais importante do vasto equipamento que levamos para uma prova de Trail, dado que poderá fazer a diferença, não só, na nossa performance desportiva, como nas sequelas que este desporto pode deixar no nosso corpo.
Embrenhei-me nas serras de Valongo, populares entre os entusiastas do trail pelos Trilhos do Paleozóico, para testar as novas Evadict MT2, segundo o fabricante concebidas para “sessões de trail e ultra trail até 170 km, especialmente em trilhos com pedras.”
Honestamente, não pensei em nada disso. Calcei as sapatilhas e fui correr, mas antes…
Este modelo da marca da Decathlon, surpreende logo ao sair da caixa pela sua leveza. Ao calçar, “abraçam-se” ao pé, transmitindo uma quase imediata sensação de conforto. No entanto, a dureza da sola deixou-me apreensivo. Gostei do pormenor da bolsa para guardar o nó dos atacadores, algo que sempre me atrapalha, principalmente depois de colocar o chip.
Ao sair de casa, pensei numa série de critérios para avaliar as sapatilhas mas, como não podia correr com um bloco de notas, limitei-me a registar na memória as sensações que as sapatilhas me iam transmitindo ao longo dos percursos escolhidos, nos quais procurei a maior diversidade possível de pisos, desníveis e velocidade.
A verdade é que, ao fim de poucos quilómetros, esqueci-me que tinha umas sapatilhas novas calçadas e limitei-me a desfrutar da corrida. Quando não damos pela presença das sapatilhas nos pés, é sinal que temos um bom calçado e estamos confortáveis.
Em praticamente todas as situações, as MT2 revelaram uma fantástica aderência, não só nas descidas mais inclinadas, como nas subidas mais íngremes. Naqueles terrenos secos, com pedras e terra solta, onde normalmente o pé desliza para trás, as sapatilhas da Decathlon mantiveram-se firmes e estáveis, empurrando o corpo para a frente e facilitando a progressão.
A maior surpresa das MT2 veio nos pisos mais irregulares nos quais, a sola aparentemente dura, revelou-se bastante flexível, adaptando-se aos movimentos do pé. Aliás, foi mesmo a performance neste género de terreno que me encantou. As MT2 ajudam a manter a estabilidade de todo o corpo, o que acaba por permitir uma maior segurança e, consequentemente, uma maior velocidade. É como se o terreno fosse aplanado, criando uma estrada de alcatrão sob os nossos pés.
E, por falar em terrenos planos… Nos estradões de terra batida, onde aparentemente poderia correr de forma mais solta, senti os pés presos e a dureza da sola. Pegando no que disse atrás, voltei a sentir as sapatilhas nos pés e de forma desconfortável. Isto poderá trazer problemas nas ultra distâncias mais longas, onde há largas secções dentro de localidades.
Infelizmente, não apanhei condições climatéricas que permitissem testar a sua impermeabilidade. De qualquer modo, eu gosto de manter os pés fresquinhos.
Salvo esta última observação, no geral, as Evadict MT2 são uma boa solução para quem procura conforto, estabilidade e aderência a um preço acessível.
Para quem se inicia na modalidade e não sabe muito bem o que comprar, tem aqui uma excelente opção, que dá resposta a grande parte dos desafios propostos pelo Trail.
Para percursos mais técnicos que corríveis, mais para endurance do que velocidade, custam metade do preço dos modelos das marcas mais populares do mercado e não lhes ficam nada atrás em termos de performance global.