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Será a corrida uma actividade contra-natura?

bosquimanosSe por um lado é óbvio que a forma ancestral básica de deslocação do ser humano é caminhar – motivo pelo qual há vozes que defendem que a corrida é contra-natura – não é menos verdade que a partir do momento em que este se encontre com pressa, a caminhada de imediato se transforma em corrida. Atente-se ao tradicional exemplo da caça, quer no papel de caçador quer no de potencial presa.

Na realidade, o corpo humano é dotado de características específicas de animal corredor, sendo que dispõe de atributos únicos de entre os restantes membros do reino animal, como sejam o tendão de aquiles, cuja função é a de ajudar na flexão planar, isto é: especificamente a de simultaneamente conferir equilíbrio enquanto potencia o impulso necessário à passada rápida, ou seja o passo de corrida.

Olhemos o método de caça ainda hoje adoptado pelas tribos de bosquímanos do deserto do Kalahari (actualmente perseguidos pelo governo do Botswana) que remonta a um passado pré-histórico mas que ainda se mantém até aos dias de hoje.

A tribo selecciona um animal a ser caçado e divide-se em dois grupos, sendo o primeiro constituído por elementos mais jovens e mais rápidos, que iniciam, desarmados, a perseguição à presa. Atrás deste grupo seguem, à distância, os veteranos mais lentos mas mais resistentes – os ultramaratonistas – que apenas entram em acção quando presa e velocistas começam a denotar sinais de cansaço, encetando a perseguição final, cercando e caçando o animal, que apesar de invariavelmente mais rápido acaba por ser vencido pelo cansaço e pelo sobreaquecimento. É que os humanos dispõe de outra característica que favorece a actividade da corrida – a libertação do excesso de calor por meio da transpiração, pois ao libertarmos suor livramo-nos do excesso de calor produzido pelo esforço muscular.

Estas corridas de resistências, que permitem caçar um animal mais rápido e mais feroz, sem recurso a armas, chegam a durar um dia inteiro e a atingir os 60 ou 70 quilómetros.

Se dúvidas restam, “soltem” uma criança de 3 ou 4 anos de idade e vejam o que é que ela impulsivamente faz.

Boas corridas.

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