Chegou ao fim o Portugal O’ Meeting 2014. Na única etapa de Distância Longa desta edição, Thierry Gueorgiou e Simone Niggli foram os primeiros a partir… e a chegar!
Está dada por concluída a 19ª edição do Portugal O’ Meeting, a mais importante prova do calendário regular nacional de Orientação Pedestre. A organização – a cargo do CPOC – Clube Português de Orientação e Corrida e da Câmara Municipal de Gouveia – reservou para este último dia uma etapa de Distância Longa, revisitando alguns dos mais emblemáticos pontos dos dias anteriores, numa mescla perfeita de complexidade técnica e exigência física.
As partidas em sistema de ‘chasing start’ apresentavam à partida vantagens confortáveis para os líderes dos escalões de Super Elite Masculina e Elite Feminina, respetivamente Thierry Gueorgiou (Kalevan Rasti) e Simone Niggli (OK Tisaren), de tal forma que só um cataclismo poderia ditar uma reviravolta na classificação final. E se é verdade que os cataclismos acontecem – que o diga a própria Simone Niggli, apenas 8ª classificada na etapa anterior -, isso não sucedeu na etapa de hoje e ambos os atletas foram mesmo os mais rápidos, ampliando as suas vantagens ante a concorrência.
“Ensaio muito positivo”
Na Super Elite masculina, Thierry Gueorgiou foi o único atleta a baixar da uma hora e vinte de prova, cumprindo os 13,9 km do seu percurso em 1:19:47. A segunda posição coube ao suiço Andreas Rüedlinger (Leksands OK), com mais 2:21, enquanto o terceiro lugar foi para o checo Jan Petrzela (OK Kare), com um registo de 1:22:12. Com os resultados apurados na derradeira etapa, Thierry Gueorgiou confirmou a liderança e venceu o Portugal O’ Meeting pela quarta vez (terceira consecutiva). Mas foi possível assistir a verdadeiras “cambalhotas” na classificação, da sensacional subida de Andreas Rüedlinger do 17º lugar para o 6º no final, ao “trambolhão” do sueco Oskar Sjöberg (OK Linné), da 4ª posição para um lugar fora do top-10.
No final, Thierry Gueorgiou mostrava-se satisfeito com a vitória, “mesmo que a concorrência não tenha sido tão forte como em anteriores edições.” Para o multi-campeão francês, “o conjunto das quatro provas do Portugal O’ Meeting mostraram que estou bem, cometi muito poucos erros e acabou por ser um ensaio muito positivo para os momentos seguintes.” Falando um pouco desta derradeira prova, Thierry disse: “Era o que estava à espera, uma mistura de todos os terrenos das etapas precedentes, o que se tornou muito interessante, com as partes mais técnicas dos segundo e terceiro dias e muitas opções nas pernadas mais longas.” O balanço, no momento, é “francamente positivo”, mas “temos pela frente o Campeonato da Europa e há imensas coisas ainda por afinar. A partir daqui é trabalhar mais a fundo ainda, meter muito volume de treino e esperar que todo esse trabalho possa vir a ser recompensado”, concluiu.
“Bons desafios técnicos em terrenos de grande qualidade”
Oitavo classificado na etapa inaugural, Jan Prochazka foi subindo paulatinamente na classificação até alcançar o segundo lugar no final. Algo que o atleta comenta desta forma: “Fiquei surpreendido com meu resultado no final da primeira etapa, mas penso que os jovens Suecos começaram muito fortes e fizeram um bom trabalho. Não estive nos primeiros lugares desde o início, mas após as duas etapas de Distância Média penso que consegui o segundo lugar por uma margem tranquila e acreditei que seria possível guardar essa vantagem.”
Questionado sobre a etapa que mais lhe “encheu as medidas”, Jan elege a segunda, “ainda mais interessante que a terceira, apesar dos problemas quanto à legibilidade do mapa” e faz o balanço de mais uma passagem por Portugal: “Depois de correr o Model Event, confesso que as expectativas não eram as melhores, mas no final as etapas mostraram bons desafios técnicos em terrenos de grande qualidade. Nos Campeonatos Mediterrânicos do fim de semana passado, tinha a sensação de estar a perder velocidade, mas as três primeiras etapas do Portugal O’ Meeting vieram mostrar que a velocidade está a melhorar de dia para dia. É nesse particular aspeto que irei fazer incidir a minha atenção no próximo mês e espero estar pronto para correr rápido nos Campeonatos da Europa, algo que eu julgo deverá ser muito importante.”
Lisa Risby, surpreendente
Na prova feminina, Simone Niggli (OK Tisaren) esteve de novo em grande plano, fazendo uma grande prova no tempo de 1:14:46 para 10,5 km de prova. A sueca Annika Billstam (OK Linné) viria a conseguir o segundo melhor tempo, gastando mais um minuto e meio que a vencedora, enquanto a terceira posição na etapa coube à finlandesa Riina Kuuselo (Tampereen Pyrintö), redimindo-se aqui das prestações menos conseguidas nas etapas anteriores e terminando a 2:11 da vencedora. No cômputo geral das quatro etapas, Simone Niggli foi a grande vencedora, o que sucede pela quinta vez consecutiva e pela sexta vez em termos gerais (a atleta venceu o seu primeiro POM no início da sua brilhante carreira, em 2002).
Vencedora da etapa pontuável para o ranking mundial disputada ontem, Maria Magnusson (Sävedalens AIK) soube segurar a segunda posição, concluindo no final a pouco mais de dez minutos da vencedora. Campeã do Mundo junior de Distância Longa e Vice-Campeã do Mundo de Distância Média em título, a muito jovem sueca Lisa Risby (OK Kare) merece igualmente o título de estrela deste Portugal O’ Meeting, ao subir cinco lugares na etapa derradeira, quedando-se num honroso terceiro lugar. Segunda classificada em 2013, a sueca Annika Billstam esteve sensacional nesta derradeira etapa, o que lhe viria a garantir a quarta posição final. Em sentido contrário esteve a sueca Kristin Lofgren (Varegg), terceira classificada à entrada para a última etapa e que acabou por sucumbir à dureza do percurso, caindo para o 9º lugar final.
“O Portugal O’ Meeting vale sempre a pena”
Tal como Thierry Gueorgiou, também Simone Niggli expressava o seu contentamento no final: “É claro que estou muito feliz por mais uma vitória e penso que fiz três grandes provas e uma muito má. Em qualquer dos casos, senti-me estável durante toda a semana e no fim de semana e foi mais uma bela experiência em terrenos surpreendentemente exigentes, pelo que o Portugal O’ Meeting vale sempre a pena”. Recuando vinte e quatro horas, Simone lança ainda um breve olhar sobre a prova “muito má”: “O problema teve a ver apenas com a falta de cuidado na leitura do mapa. Devia tê-lo feito muito devagar e ler cada pedra no mapa. O terreno era absolutamente inesperado e não consegui reagir da melhor maneira, mas são coisas que acontecem e estou contente porque hoje voltei a fazer uma boa prova.”
Como reagiu ao olhar para o mapa e perceber que iria revisitar, na parte final do percurso, os terrenos da véspera, eis a questão seguinte. A atleta dá uma gargalhada e responde: “Não posso dizer que fiquei assustada mas foi algo que me passou pela cabeça e encarei como uma possibilidade de poder fazer melhor. Mas penso que o traçado de percursos foi extremamente correto, dando a possibilidade de, mesmo a uma escala de 1:15000, poder ver que os pontos estavam bem marcados no terreno e podiam ser alcançados sem ser por mera questão de sorte. Talvez tenha feito hoje a minha melhor prova, sem cometer grandes erros e, bom, estou muito contente.” Vamos voltar a vê-la ganhar o Portugal O’ Meeting nos próximos cinco anos? (risos) “Veremos. Penso que a minha forma irá decair ano após ano mas sim, tenho muita experiência e espero voltar de novo nos próximos anos.”
“É isto que eu amo!”
Para Maria Magnusson, segunda classificada, correr para a vitoria implicava recuperar 6:05 de desvantagem para Simone Niggli. Tarefa impossível? A atleta responde: “A minha atenção nunca esteve centrada em Simone Niggli. Apenas me preocupei em fazer uma boa prova. Sentia o corpo muito cansado, mas estar inteiramente focada nas etapas de Distância Média fez com que, também mentalmente, me sentisse bastante cansada. Não cometi grandes erros, fiz a prova possível mas ainda assim estou bastante contente. Não foi a minha melhor prova, mas foi uma prova controlada do início ao fim.”
Escolher uma das quatro etapas como a preferida é, no caso de Maria Magnusson, tarefa fácil: “A prova de ontem, claro (risos). Mas também gostei muito da segunda etapa. Penso que foram duas Distâncias Médias muito boas, bastante exigentes tecnicamente, verdadeiras provas de topo. Todas as provas de Distância Média deveriam ser assim e espero que a Orientação se mantenha assim, embora deva confessar a minha preocupação no que respeita ao futuro. Cada vez vemos mais provas de Sprint, cada vez vemos mais corrida fácil.” Marcar presença no Portugal O’ Meeting foi algo que não esteve desde sempre nos planos da atleta: “Os meus plan os iniciais passavam pela Eslovénia, mas uma vez que a seleção da Suécia marcou para aqui as provas de qualificação para os Campeonatos da Europa, vim. Esperava um Campo de Treino técnico mas isto foi, na verdade, bem melhor do que estava à espera. As competições foram tão técnicas e tão boas, foi mesmo excelente. Se voltar a haver aqui uma prova, voltarei seguramente. É isto que eu amo!”
Resultados Finais
Homens Super Elite
1. Thierry Gueorgiou (Kalevan Rasti) 3:16:26
2. Jan Prochazka (Kalevan Rasti) 3:33:26 (+17:00)
3. Hannu Airila (Kalevan Rasti) 3:35:31 (+19:05)
4. Olli-Markus Taivanen (Pellon Ponsi) 3:39:45 (+23:19)
5. Jakob Lööf (MOKS) 3:41:14 (+24:48)
6. Andreas Rüedlinger (Leksands OK) 3:41:36 (+25:10)
7. Jan Petrzela (OK Kare) 3:41:54 (+25:28)
8. Andreu Blanes (Colivenc) 3:42:59 (+26:33)
9. Rassmus Andersson (OK Linné) 3:43:44 (+27:18)
10. Lauri Sild (Hiidenkiertäjät) 3:48:58 (+32:32)
Damas Elite
1. Simone Niggli (OK Tisaren) 3:25:58
2. Maria Magnusson (Sävedalens AIK) 3:36:15 (+10:17)
3. Lisa Risby (OK Kare) 3:43:45 (+17:47)
4. Annika Billstam (OK Linné) 3:43:55 (+17:57)
5. Karoliina Sundberg (Lynx) 3:43:57 (+17:59)
6. Ulrika Uotila (Koovee) 3:44:12 (+18:14)
7. Outi Ojanen (Kangasala SK) 3:44:17 (+18:19)
8. Riina Kuuselo (Tampereen Pyrintö) 3:44:36 (+18:38)
9. Kristin Lofgren (Varegg) 3:51:57 (+25:59)
10. Anna Nähri (IFK Göteborg) 3:54:48 (+28:50)
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Joaquim Margarido