Augusto Oliveira esteve um mês em coma, teve duas tromboses venosas profundas, foi sujeito a duas intervenções cirúrgicas (1 lobotomia e 1 cranioplastia). A probabilidade de sobreviver era quase nula e se isso acontecesse nunca iria voltar a trabalhar. Actividades físicas e desportos de aventura nem pensar pois a sua autonomia seria praticamente nula. Era isto que constava nos relatórios médicos de há 4 anos atrás. Pesava 98 kg, sem mobilidade, extremamente sedentário e sem objectivos concretos de mudança.
Teve uma infância, adolescência e juventude preenchida por actividades físicas e desportivas, desde o atletismo, até competir ao mais alto nível, tendo representado a Selecção Portuguesa de Canoagem (Águas Bravas – Slalom) na Taça do Mundo, Campeonato do Mundo e noutras provas de nível internacional. Depois de uma trajectória ascendente que foi conseguida com esforço, dedicação e sacrifícios, até à curva descendente provocada pelo desânimo, falta de objectivos e empenho, até ao declínio físico, mental e emocional.
Depois de passar dias e dias no sofá, surgiu o incentivo por parte de irmã para correr os primeiros quilómetros. Foram dolorosos e complicados, mas a partir desse dia a sua vida recomeçou. Inicialmente treinava sozinho, e em cada corrida ia-se afastando cada vez mais de casa – sem telemóvel ou dinheiro – sabia que tinha que regressar.
Nesta altura decidiu então inscrever-se na caminhada (10k) do Ultra Trail Serra da Freita. No fim sentiu que conseguia fazer mais, que podia ter participado no Trail curto. Foi nesta primeira envolvência no mundo do Trail, que diz ter sentido a alegria e a comunhão com a natureza que se vive neste desporto. Ao assistir à chegada dos atletas do Ultra Trail (70K) já com muitas horas de prova, cansados, sujos, com mazelas, constatou que cortavam a meta cheios de alegria e entusiasmo.
Isto despertou-o para o Trail.
No mês seguinte já estava a participar na sua primeira prova de Trail: 25 km no TNLO 2011 – Trail Nocturno Lagoa de Óbidos. Este mundo do Trail provocou-lhe satisfação, felicidade e boa disposição, isso fê-lo continuar.
Diz-nos que foram estes os meus primeiros momentos no Trail que alteraram a sua vida para sempre!
Foi recuperando a forma física, ganhando massa muscular e perdendo a massa gorda, a sentir-se com capacidades para percorrer cada vez maiores distâncias até conseguir atingir o seu primeiro objectivo – conseguir fazer 42 km. Mas rapidamente passou a barreira dos 50 km, e então o segundo objectivo estava traçado: conseguir fazer uma prova com 100 km e conseguir tornar-me um Ultra Maratonista.
Neste momento com quase 4 anos de Trail Running e com mais de 40 Maratonas e Ultra Maratonas e outras tantas abaixo dos 40 km, num total de quase 3000 km de provas, conseguiu atingir outro objectivo, estar presente na prova de Ultra Trail mais conceituada a nível mundial o UTMB – Ultra Trail Du Mont Blanc – 100 milhas – 168 km.
Já pensa até no próximo objetivo que é conseguir fazer uma prova com 200 milhas.
Durante todo este tempo diz que continua a manter vivo o seu objectivo original que é chegar ao fim de cada prova.
O Ultra Trail foi o desporto que lhe devolveu a alegria, a felicidade, o bem-estar físico, emocional e psicológico, que o fez voltar a traçar metas, a definir objectivos.
De que forma é que o Trail Running salvou a tua vida?
“- Voltei a praticar actividades físicas e de aventura – Trail, Canyoning, Canoagem Slalom (voltei a participar no Campeonato Nacional – voltei a ser campeão nacional Patrulhas) Caminhadas – fiz os caminhos de Santiago (caminho tradicional português), BTT – fiz o Douro Internacional, fiz uma formação em Espeleologia e outras tantas e tantas aventuras, um pouco por todas as serras e montanhas (Pirenéus e outras).
Voltei a estudar e neste momento tenho a Licenciatura em Psicologia e ando a fazer o Mestrado (em que o tema da minha Tese de Mestrado em principio vai incidir na Superação, Resiliência e Emoções em ultra distâncias). O limite é a fronteira criada pela mente!
Voltei para o meu local de trabalho com força e vontade.
Tenho um novo estilo de vida saudável, activo, dinâmico; sinto-me com forças para vencer e triunfar.
Saí dos cuidados intensivos para vencer, eu acredito eu consigo!”
Parabéns Augusto
É com exemplos como o seu, que outros se juntam ao pelotão para experimentarem outra qualidade de vida e motivação, que os ajuda a enfrentar um quotidiano diferente do que tinham.
Saudações desportivas
uma história de vida que arrepia…
parabéns camarada